ODE TRIUNFAL
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical —
Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força —
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
E há Platão e Virgílio dentro das máquinas e das luzes eléctricas
Só porque houve outrora e foram humanos Virgílio e Platão,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,
Átomos que hão-de ir ter febre para o cérebro do Ésquilo do século cem,
Andam por estas correias de transmissão e por estes êmbolos e por estes volantes,
Rugindo, rangendo, ciciando, estrugindo, ferreando,
Fazendo-me um acesso de carícias ao corpo numa só carícia à alma.
Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!
Ser completo como uma máquina!
Poder ir na vida triunfante como um automóvel último-modelo!
Poder ao menos penetrar-me fisicamente de tudo isto,
Rasgar-me todo, abrir-me completamente, tornar-me passento
A todos os perfumes de óleos e calores e carvões
Desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável!
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!
Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés — oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de L’Opéra que entram
Pela minh’alma dentro!
Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-lá-hô la foule!
Tudo o que passa, tudo o que pára às montras!
Comerciantes; vários; escrocs exageradamente bem-vestidos;
Membros evidentes de clubes aristocráticos;
Esquálidas figuras dúbias; chefes de família vagamente felizes
E paternais até na corrente de oiro que atravessa o colete
De algibeira a algibeira!
Tudo o que passa, tudo o que passa e nunca passa!
Presença demasiadamente acentuada das cocotes
Banalidade interessante (e quem sabe o quê por dentro?)
Das burguesinhas, mãe e filha geralmente,
Que andam na rua com um fim qualquer;
A graça feminil e falsa dos pederastas que passam, lentos;
E toda a gente simplesmente elegante que passeia e se mostra
E afinal tem alma lá dentro!
(Ah, como eu desejaria ser o souteneur disto tudo!)
A maravilhosa beleza das corrupções políticas,
Deliciosos escândalos financeiros e diplomáticos,
Agressões políticas nas ruas,
E de vez em quando o cometa dum regicídio
Que ilumina de Prodígio e Fanfarra os céus
Usuais e lúcidos da Civilização quotidiana!
Notícias desmentidas dos jornais,
Artigos políticos insinceramente sinceros,
Notícias passez à-la-caisse, grandes crimes —
Duas colunas deles passando para a segunda página!
O cheiro fresco a tinta de tipografia!
Os cartazes postos há pouco, molhados!
Vients-de-paraître amarelos como uma cinta branca!
Como eu vos amo a todos, a todos, a todos,
Como eu vos amo de todas as maneiras,
Com os olhos e com os ouvidos e com o olfacto
E com o tacto (o que palpar-vos representa para mim!)
E com a inteligência como uma antena que fazeis vibrar!
Ah, como todos os meus sentidos têm cio de vós!
Adubos, debulhadoras a vapor, progressos da agricultura!
Química agrícola, e o comércio quase uma ciência!
Ó mostruários dos caixeiros-viajantes,
Dos caixeiros-viajantes, cavaleiros-andantes da Indústria,
Prolongamentos humanos das fábricas e dos calmos escritórios!
Ó fazendas nas montras! Ó manequins! Ó últimos figurinos!
Ó artigos inúteis que toda a gente quer comprar!
Olá grandes armazéns com várias secções!
Olá anúncios eléctricos que vêm e estão e desaparecem!
Olá tudo com que hoje se constrói, com que hoje se é diferente de ontem!
Eh, cimento armado, beton de cimento, novos processos!
Progressos dos armamentos gloriosamente mortíferos!
Couraças, canhões, metralhadoras, submarinos, aeroplanos!
Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera.
Amo-vos carnivoramente.
Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ó coisas grandes, banais, úteis, inúteis,
Ó coisas todas modernas,
Ó minhas contemporâneas, forma actual e próxima
Do sistema imediato do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
Ó fábricas, ó laboratórios, ó music-halls, ó Luna-Parks,
Ó couraçados, ó pontes, ó docas flutuantes —
Na minha mente turbulenta e encandescida
Possuo-vos como a uma mulher bela,
Completamente vos possuo como a uma mulher bela que não se ama,
Que se encontra casualmente e se acha interessantíssima.
Eh-lá-hô fachadas das grandes lojas!
Eh-lá-hô elevadores dos grandes edifícios!
Eh-lá-hô recomposições ministeriais!
Parlamentos, políticas, relatores de orçamentos,
Orçamentos falsificados!
(Um orçamento é tão natural como uma árvore
E um parlamento tão belo como uma borboleta).
Eh-lá o interesse por tudo na vida,
Porque tudo é a vida, desde os brilhantes nas montras
Até à noite ponte misteriosa entre os astros
E o mar antigo e solene, lavando as costas
E sendo misericordiosamente o mesmo
Que era quando Platão era realmente Platão
Na sua presença real e na sua carne com a alma dentro,
E falava com Aristóteles, que havia de não ser discípulo dele.
Eu podia morrer triturado por um motor
Com o sentimento de deliciosa entrega duma mulher possuída.
Atirem-me para dentro das fornalhas!
Metam-me debaixo dos comboios!
Espanquem-me a bordo de navios!
Masoquismo através de maquinismos!
Sadismo de não sei quê moderno e eu e barulho!
Up-lá hô jockey que ganhaste o Derby,
Morder entre dentes o teu cap de duas cores!
(Ser tão alto que não pudesse entrar por nenhuma porta!
Ah, olhar é em mim uma perversão sexual!)
Eh-lá, eh-lá, eh-lá, catedrais!
Deixai-me partir a cabeça de encontro às vossas esquinas.
E ser levado da rua cheio de sangue
Sem ninguém saber quem eu sou!
Ó tramways, funiculares, metropolitanos,
Roçai-vos por mim até ao espasmo!
Hilla! hilla! hilla-hô!
Dai-me gargalhadas em plena cara,
Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas,
Ó multidões quotidianas nem alegres nem tristes das ruas,
Rio multicolor anónimo e onde eu me posso banhar como quereria!
Ah, que vidas complexas, que coisas lá pelas casas de tudo isto!
Ah, saber-lhes as vidas a todos, as dificuldades de dinheiro,
As dissensões domésticas, os deboches que não se suspeitam,
Os pensamentos que cada um tem a sós consigo no seu quarto
E os gestos que faz quando ninguém pode ver!
Não saber tudo isto é ignorar tudo, ó raiva,
Ó raiva que como uma febre e um cio e uma fome
Me põe a magro o rosto e me agita às vezes as mãos
Em crispações absurdas em pleno meio das turbas
Nas ruas cheias de encontrões!
Ah, e a gente ordinária e suja, que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias
E cujas filhas aos oito anos — e eu acho isto belo e amo-o! —
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.
A gentalha que anda pelos andaimes e que vai para casa
Por vielas quase irreais de estreiteza e podridão.
Maravilhosamente gente humana que vive como os cães
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!
(Na nora do quintal da minha casa
O burro anda à roda, anda à roda,
E o mistério do mundo é do tamanho disto.
Limpa o suor com o braço, trabalhador descontente.
A luz do sol abafa o silêncio das esferas
E havemos todos de morrer,
Ó pinheirais sombrios ao crepúsculo,
Pinheirais onde a minha infância era outra coisa
Do que eu sou hoje...)
Mas, ah outra vez a raiva mecânica constante!
Outra vez a obsessão movimentada dos ónibus.
E outra vez a fúria de estar indo ao mesmo tempo dentro de todos os comboios
De todas as partes do mundo,
De estar dizendo adeus de bordo de todos os navios,
Que a estas horas estão levantando ferro ou afastando-se das docas.
Ó ferro, ó aço, ó alumínio, ó chapas de ferro ondulado!
Ó cais, ó portos, ó comboios, ó guindastes, ó rebocadores!
Eh-lá grandes desastres de comboios!
Eh-lá desabamentos de galerias de minas!
Eh-lá naufrágios deliciosos dos grandes transatlânticos!
Eh-lá-hô revoluções aqui, ali, acolá,
Alterações de constituições, guerras, tratados, invasões,
Ruído, injustiças, violências, e talvez para breve o fim,
A grande invasão dos bárbaros amarelos pela Europa,
E outro Sol no novo Horizonte!
Que importa tudo isto, mas que importa tudo isto
Ao fúlgido e rubro ruído contemporâneo,
Ao ruído cruel e delicioso da civilização de hoje?
Tudo isso apaga tudo, salvo o Momento,
O Momento de tronco nu e quente como um fogueiro,
O Momento estridentemente ruidoso e mecânico,
O Momento dinâmico passagem de todas as bacantes
Do ferro e do bronze e da bebedeira dos metais.
Eia comboios, eia pontes, eia hotéis à hora do jantar,
Eia aparelhos de todas as espécies, férreos, brutos, mínimos,
Instrumentos de precisão, aparelhos de triturar, de cavar,
Engenhos brocas, máquinas rotativas!
Eia! eia! eia!
Eia electricidade, nervos doentes da Matéria!
Eia telegrafia-sem-fios, simpatia metálica do Inconsciente!
Eia túneis, eia canais, Panamá, Kiel, Suez!
Eia todo o passado dentro do presente!
Eia todo o futuro já dentro de nós! eia!
Eia! eia! eia!
Frutos de ferro e útil da árvore-fábrica cosmopolita!
Eia! eia! eia! eia-hô-ô-ô!
Nem sei que existo para dentro. Giro, rodeio, engenho-me.
Engatam-me em todos os comboios.
Içam-me em todos os cais.
Giro dentro das hélices de todos os navios.
Eia! eia-hô! eia!
Eia! sou o calor mecânico e a electricidade!
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!
Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!
Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!
Londres, 1914 — Junho.
ODA TRIUNFAL
A la dolorosa luz de las grandes lámparas eléctricas de la fabrica
Tengo fiebre y escribo.
Escribo rechinando los dientes, rabioso ante esta belleza,
Esta belleza totalmente desconocida para los antiguos.
¡Oh ruedas, engranajes, eterno r-r-r-r-r-!
¡Fuerte espasmo retenido de los mecanismos en furia!
En furia dentro y fuera de mí,
En todos mis nervios distendidos
Y en todas las papilas abiertas hacia afuera y hacia todo.
Tengo los labios secos de tanto oír tan cerca
Los grandes ruidos modernos
Y mi cabeza arde por cantarlos con una demasía de expresión
De todas mis sensaciones excesivas,
Con un exceso contemporáneo de vosotras, oh máquinas.
Febril y mirando los motores como una naturaleza tropical,
Grandes trópicos humanos de hierro y fuego y fuerza,
Canto, canto al presente y también al pasado y al futuro,
Porque el presente es todo el pasado y todo el futuro
Y hay Platones y Virgilios en las máquinas y las luces eléctricas
Porque los hubo antes y Virgilio y Platón fueron hombres
Y pedazos del Alejandro Magno tal vez del siglo l ,
Átomos que tal vez darán fiebre al Esquilo del siglo C,
Corren por estas correas de transmisión y por estos émbolos y volantes,
Rugiendo, rechinando, repicando, taladrando, retumbando,
Con un exceso de caricias al cuerpo que son una sola caricia para el espíritu.
¡Ah, poder expresarme totalmente como se expresa un motor!
Ser completo como una máquina.
Poder circular triunfalmente por la vida como un auto último modelo.
Poder al menos impregnarme físicamente de todo esto,
Rasgarme enteramente, abrirme completamente, permeable
A todos los perfumes de los aceites y a los carbones
De esta flora estupenda, negra, artificial, insaciable.
Fraternidad con todas las dinámicas.
Furia promiscua de ser parte-agente
Del rodar férreo y cosmopolita
De los trenes que avanzan intrépidos,
De los barcos de carga y sus faenas de transporte,
Del girar lento y lúbrico de las grúas,
Del disciplinado tumulto de las fábricas
Y del casi silencio susurrante y monótono de las correas de transmisión.
Horas europeas, productoras, comprimidas
Entre máquinas y afanes utilitarios,
Grandes ciudades varadas en los cafés,
Nuestros cafés, oasis de inutilidades ruidosas
Donde cristalizan y se precipitan
Los rumores y los gestos de lo Útil
Y las ruedas y las ruedas dentadas y los cojinetes del progreso.
Nueva Minerva desalmada de los muelles y las estaciones.
Nuevos entusiasmos del tamaño del Momento.
Quillas de chapas de hierro sonriente acostadas en los embarcaderos
O en seco, erguidas en los planos inclinados de los puertos.
Actividad internacional, transatlántica, Canadian-Pacific.
Luces y febril perdida del tiempo en bares y hoteles,
En los Longchamps y Derby y Ascot
Y Picadilly y Avenida de la Ópera que entran
Por mi alma hacia dentro.
¡E-ya, las calles, e-ya, las plazas, e-ya, e-ya, la foule!
Todo el que pasa y todo el que se para frente a los escaparates,
Comerciantes, vagos, escrocs exageradamente bien vestidos,
Miembros notorios de los clubes aristocráticos,
Escuálidas figuras dudosas, jefes de familia vagamente felices
Y paternales hasta en la cadena de oro que les cruza
El chaleco de bolsillo a bolsillo.
¡Todo lo que pasa, todo lo que pasa y nunca pasa!
Presencia demasiado acentuada de las cocottes,
Banalidad interesante (¿y quien sabe lo que sucede dentro?)
De las burguesitas, madre e hija generalmente,
Recorriendo las calles sin propósito fijo,
La gracia femenina y falsa de los pederastas que pasan con lentitud,
¡Y toda la gente simplemente elegante que pasea y se exhibe,
Dueña, después de todo, de un alma!
(¡Ah, como desearía ser el souteneur de todo esto!)
La maravillosa belleza de las corrupciones políticas,
Deliciosos escándalos financieros y diplomáticos,
Agresiones políticas en las calles,
Y de vez en cuando el cometa de un regicidio
Iluminando de prodigio y fanfarria los cielos
Rutinarios y brillantes de la civilización cotidiana.
Noticias desmentidas de los periódicos,
Artículos políticos insinceramente sinceros,
Noticias passez-a-la caisse, grandes crímenes
(A dos columnas y pase a la segunda página),
Olor fresco de la tinta de imprenta,
Carteles pegados hace poco humedos todavia,
Vient-de-paraître amarillos con una faja blanca,
Como amo a todos, a todos,
Como os amo a todos de todas las maneras,
Con los ojos y los oídos y con el olfato
Y con el tacto (¡lo que para mi significa palparos!)
Y con la inteligencia que es como una antena que vibra.
Mis sentidos en celo por vosotros.
Abonos, trilladoras de vapor, progresos de la agricultura
Química agrícola ¡y el comercio casi una ciencia!
Los muestrarios de los agentes viajeros,
Los agentes viajeros, caballeros andantes de la Industria,
Prolongaciones humanas de las fabricas y las calladas oficinas.
Novedades en las vitrinas, maniquíes, últimos figurines,
Articulos inutiles que toda la gente suena comprar,
¡Hola!, grandes almacenes con múltiples departamentos,
Anuncios eléctricos que brillan, parpadean y desaparecen,
¡Todo lo que hoy se fabrica y por lo que hoy es diferente de ayer!
¡E-ya, cemento armado, betón, procedimientos novísimos!,
Avance en los armamentos gloriosamente mortíferos,
Acorazados, submarinos, cañones, ametralladoras, aeroplanos,
Os amo a todos, a todos, como una fiera,
Os amo carnívoramente,
Perversamente — y me veo ante mí mismo enroscado
En vosotras, oh cosas grandes, banales, útiles, inútiles,
Cosas totalmente modernas,
Mis contemporáneas, forma actual y próxima
Del sistema inmediato del universo,
Nueva revelación metálica y dinámica de Dios.
Fábricas, laboratorios, music-halls, Luna Parks,
Puentes, docks flotantes, acorazados,
En mi mente turbulenta e incandescente
Os poseo como a una mujer hermosa,
Completamente os poseo como a una mujer hermosa y no amada,
A la que encontramos por casualidad y juzgamos interesantísima.
¡E-ya-o-e-ya, fachadas de las grandes lonjas,
Ascensores de los grandes edificios,
E-ya-o-ya, cambios de gabinete,
Parlamentos políticos, relatores de presupuesto,
Presupuestos adulterados!
(Un presupuesto es tan natural como un árbol,
Un parlamento es bello como una mariposa.)
¡E-ya, interés por todas las cosas de la vida!,
Porque todo es la vida, desde los brillantes del escaparate
Hasta la noche, puente misterioso entre los astros
Y el mar antiguo y solemne, bañando las costas
Y misericordiosamente siendo el mismo que era
Cuando Platón era realmente Platón
En su presencia real y en su cuerpo con un alma dentro
Y hablaba con Aristóteles, que no sería su discípulo.
Yo podría morir triturado por un motor
Con el sentimiento delicioso de entrega de la mujer poseída.
¡Arrójenme a los altos hornos!
¡Tírenme debajo de los trenes!
¡Azótenme a bordo del crucero!
Masoquismo a través del maquinismo,
Sadismo de no se qué moderno y yo mismo y barullo.
¡Jipa, jipi, jockey que ganaste el Derby,
¡Hincar los dientes en tu cap de dos colores!
(¡Ser tan alto que no pudiese entrar por ninguna puerta!
Mirar es en mi una perversión sexual.)
¡Epa, epa, catedrales!
Caer y partirme el cráneo contra vuestras piedras.
Y que me levanten de un charco de sangre
Sin que nadie sepa quien soy.
Tramways, funiculares, metropolitanos,
Frotadme hasta el espasmo,
¡Hila, hila, hila, oh! Reíd, reíd en mi cara,
Automóviles repletos de juerguistas y rameras,
Multitudes cotidianas ni alegres ni tristes en las calles,
Río multicolor y anónimo donde me baño a mis anchas.
¡Ah, cuantas vidas complejas, cuantas cosas en todas estas casas!
Enterarse de la vida de todos, las dificultades monetarias,
Los pleitos domésticos, los desórdenes que nadie sospecha,
Los pensamientos que cada uno tiene a solas en su cuarto
Y los gestos que hace cuando nadie lo puede ver.
No saber nada de esto es ignorarlo todo, oh rabia,
Rabia que como si fuese fiebre y celo y hambre
Me enflaquece la cara y me hace temblar las manos
Con absurdas crispaciones en mitad de las turbas,
En mitad de las calles llenas de encontronazos.
Y la gente vulgar y sucia que parece siempre la misma,
Que cada dos palabras suelta una palabrota,
Cuyos hijos roban en las puertas de los tendajones,
Cuyas hijas a los ocho años —¡todo esto es hermoso y lo amo!—
Masturban a hombres de aspecto decente en los huecos de la escalera,
La gentuza que trepa los andamios y regresa a su casa
Por callejas casi irreales de estrechas y podridas,
Maravillosa gente humana que vive como los perros,
Abajo de todos los sistemas morales,
Para la que ninguna religión se ha inventado,
Ningún arte ha sido creado,
Ninguna política,
¡Como os amo a todos, por ser así,
Ni siquiera inmorales de tan bajos, ni buenos ni malos,
Inaccesibles a todos los cambios,
Fauna maravillosa del fondo del mar de la vida!
(En la noria del patio de mi casa
Da vueltas el burro, da vueltas,
Y el misterio del mundo no es más grande que esto.
Limpia el sudor con tu manga, trabajador descontento.
La luz del sol humilla el silencio de las esferas
Y todos vamos a morir,
Oh pinares sombríos en el crepúsculo,
Pinares donde mi infancia era otra cosa,
Otra cosa y no esto que soy...)
Pero de nuevo esta rabia mecánica, constante.
Otra vez la obsesión del movimiento de los autobuses,
Otra vez la furia de estar al mismo tiempo en todos los trenes
De todos los lugares de todo el mundo,
Otra vez estar diciendo adiós a bordo de todos los barcos
Que a esta hora levan el ancla o despegan de los muelles,
¡Oh hierro, acero, aluminio, chapas de metal ondulado,
Muelles, puertos, convoyes, grúas, remolcadores!
¡E-ya, los grandes desastres ferroviarios,
E-ya, los derrumbes en las galerías de las minas,
E-ya, los naufragios deliciosos de los grandes trasatlánticos,
E-ya, las revoluciones aquí, allá, acullá,
Los cambios de constituciones, guerras, tratados, invasiones,
Ruido, injusticias, violencias y tal vez dentro de poco
La gran invasión de los bárbaros amarillos en Europa
Y otro Sol en un nuevo Horizonte!
¿Qué importa todo esto, qué puede importarle todo esto
Al fúlgido y rojizo ruido contemporáneo,
Al ruido cruel y delicioso de la civilización de ahora?
Todo esto acalla todo, salvo al Momento,
Al Momento de tronco desnudo y caliente como un fogonero,
Momento estridente, ruidoso, mecánico,
Momento, pasaje dinámico de todas las bacantes
Del hierro y del bronce y de la borrachera de metales.
¡E-ya, ferrocarriles, puentes, hoteles a la hora de la comida,
Aparatos de todas clases, férreos, brutales, mínimos,
Instrumentos de precisión, trituradoras, cavadoras,
Émbolos, tornos, rotativas,
E-ya, e-ya, e-ya,
Electricidad, nervios enfermos de la materia,
Telegrafía sin hilos, simpatía metálica del inconsciente,
Túneles, canales, Panamá, Kiel, Suez,
E-ya, todo el pasado dentro del presente,
E-ya, todo el futuro ya en nosotros, e-ya,
E-ya, e-ya, e-ya,
Frutos de hierro del árbol-fábrica cosmopolita,
E-ya, e-ya, e-ya, jo, jo, jo-o-o-ooo,
No existo por dentro, giro, ruedo, corro,
Me enganchan en todos los trenes,
Me izan en todos los muelles,
Giro en las hélices de todos los barcos,
E-ya, e-ya, e-ya, jo-ooo,
Soy el calor mecánico y la electricidad,
Y los rieles y los depósitos de maquinaria y Europa,
E-ya, hurra por mí en todo y por todo, hurra, maquinas !al trabajo!, e-ya,
Saltar con todo por encima de todo, upa,
Upa, epa, upa, epa, op, jop, jop,
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z,
¡Ah, no ser toda la gente y estar en todas partes!
Traducción de OCTAVIO PAZ
Versiones y Diversiones, México, 1973